Didáctic@ da Língua em Rede - Ensino Básico 1º Ciclo

quarta-feira, novembro 15, 2006

Indisciplinado ou Hiperactivo?

Começamos o nosso estágio há uma semana e conhecemos ou revemos a turma em que iremos estagiar ao longo deste ano lectivo. Para quem se deparou com a novidade, ou seja, com uma turma nova, existem sempre casos que nos marcam no primeiro instante, seja por bom ou mau motivo. Sei que quanto a mim, me deparei com um caso difícil, que tentarei lidar da melhor maneira. Como tal, e sabendo que o meu caso não é o único e que muitos existem, aconselho a que quando se depararem com um caso especial na vossa sala de aula, tenham atenção, tentem saber mais sobre o problema em questão, de forma a encontrar a melhor maneira de lidar com ele. Estou a falar da hiperactividade, caso de um aluno da minha turma de estágio.
Um aluno hiperactivo é o que normalmente costumamos chamar de “pestinha”, aquele que anda sempre de um lado para o outro, não consegue ficar 2 minutos no mesmo lugar, arranca as coisas aos colegas, nunca termina as tarefas escolares e sai várias vezes da sala sem pedir licença. Em algumas ocasiões chega mesmo a ser agressivo, por isso se confunde muitas vezes a indisciplina com a hiperactividade e é importante saber distinguir bem as duas coisas.
Conhecer os sintomas e aprender a lidar com esse problema é obrigação de qualquer professor que não queira causar danos aos seus alunos. Isto porque a demora no diagnóstico pode trazer consequências sérias para o desenvolvimento da criança. Para que o seu tratamento seja eficiente, além da medicação, o aluno terá que ter reorientação pedagógica na escola para não perder rendimento e aqui é que está o maior problema. Será que as nossas escolas estão preparadas para auxiliar alunos com estes problemas? Por aquilo que pude verificar, parece-me que não! O aluno em questão, além de estar incluído numa turma de 24 alunos (e aí terá de certeza menor atenção por parte do professor), ainda lhe foi retirado o apoio escolar, de que tanto precisava para se adequar ao meio escolar e assimilar os comportamentos apropriados à sala de aula. Agora digam-me, como pode um aluno conseguir resolver ou melhorar o seu problema desta maneira? É que além de ser prejudicado, ainda prejudica os outros colegas. Enfim, é a educação deste país!
No entanto, deixo aqui algumas dicas para quem tiver o mesmo caso, possa identificá-lo e, quem sabe, ajudar na sua evolução.
- A hiperactividade só se torna evidente no período escolar, pois é quando os alunos necessitam de uma maior concentração para aprender;
- A observação dos pais e professores é fundamental no seu diagnóstico;
- Às vezes, apresentam retardo na fala, trocando as letras por um período mais prolongado que o normal;
- Apresentam uma contínua agitação motora, impulsividade e impossibilidade de se concentrar, seja em brincadeiras ou em actividades pedagógicas;
- Em casos leves, o distúrbio pode ser tratado apenas com terapia e reorientação pedagógica, os casos graves necessitam de tratamento com medicamentos.
- Uma das consequências da hiperactividade é a baixa auto-estima das crianças, que surge quando elas notam que são diferentes das outras — em alguns casos, são as únicas a não concluir os trabalhos. É preciso ter cuidado, porque isto pode criar um estigma que trará repercussões sociais.

“Os professores que têm alunos hiperactivos precisam de paciência e disponibilidade, pois eles exigem tratamento diferente, mais atenção e uma rotina especialmente estimulante”

Vera Rodrigues

3 Comments:

  • A questão que envolve a hiperactividade está na ordem do dia e é bastante pertinente.
    No que concerne ao apoio dado ou não pelo Estado a este e a outros casos semelhantes é uma efusiva dúvida. Um caso destes ditaria, por norma, uma redução do número de alunos da turma.
    Por arrastamento, a turma sairá prejudicada no seu rendimento e evolução a breve prazo. De igual modo, as competências do professor serão provavelmente colocadas em cheque pelos encarregados de educação e afins.
    Enfim, exige-se cada vez mais por menos...

    By Anonymous Anónimo, at 15/11/06 17:28  

  • A questão da hiperactividade é de grande pertinência e, sem dúvida, de grande exigência pedagógica.
    Professores e pais são importantes agentes na observação de possíveis sinais deste distúrbio, como a impulsividade, imaturidade de auto-regulação, défice de atenção, bem como todos os comportamentos que lhe estão subjacentes.
    Para além disto, é importante ter sempre presente que a desinibição comportamental apresentada por estas crianças não é voluntária, mas sim resultado de uma desregulação.

    Na prática, qual a barreira que separa a indisciplina da hiperactividade? É uma questão que precisa de ser esclarecida através de uma observação reflexiva e sistemática… Função que não deve ser exclusiva do professor.
    Este não deve hesitar em procurar a ajuda de um especialista.
    Devemos ter em conta as nossas limitações, e conhecer a dinâmica da hiperactividade não chega, até porque alguns rotulados não passam de crianças com problemas de disciplina.
    É necessário um cuidado imenso no diagnóstico destas crianças, bem como no delineamento de estratégias de controlo.

    Vera: De que forma se encara a hiperactividade da criança de que falas? Que estratégias são adoptadas?

    Ao reflectir sobre o tema surgiu-me ainda uma dúvida: A hiperactividade pode ser tratada de modo a desaparecer por completo ou apenas controlada em determinados aspectos?

    Um sorriso,
    Inês Martins

    By Anonymous Anónimo, at 16/11/06 22:45  

  • Inês, obrigada pelo teu comentário, realmente tocas em aspectos bastante importantes.
    Quanto à criança em questão, ela ja possui um relatório médico recorrente de vários exames feitos, que concluiu que de facto se trata de um caso de hiperactividade. Ora, apesar de, por norma, este tipo de problemas serem apenas detectados quando o aluno entra em campus escolar, o facto é que o aluno em questão já possui o diagnóstico. E, por aquilo que tenho observado e que li, ele apresenta os sintomas ditos de uma criança hiperactiva, em todos os aspectos.
    Quanto às estratégias tomadas por parte da professora, estas têm-se revelado eficases, pois num período de 2 meses e meio o aluno conseguiu moderar (mais) o seu comportamento e vê-se que se trata de um aluno que "faz o que faz" porque realmente precisa de atenção, compreensão e principalmente carinho. E é isso que lhe temos dado, pois com estas crianças, além de paciência, temos que aprender a lidar com elas, "saber levá-las" para o melhor caminho, de maneira que elas percebam que de facto o que fazem está mal e fazer com que elas gostem ou tentem comportar-se bem pois assim serão recompensadas.
    Mesmo assim, já foi instituído que este aluno precisa de um acompanhamento especial, pelo menos 2 vezes por semana. Estão a fazer-se esforços nesse sentido, reavaliando-se todos os exames e declarações já executadas. No entanto e fora do ambiente escolar, prevê-se que "tudo" (ou nada) que têm feito por esta criança seja muito pouco, pois a medicação não basta, é necessário um apoio psicológico que não está a ser dado. Exemplo disso é que a criança só é consultada por um psicólogo uma vez por mês, muito pouco na minha opinião e na das demais pessoas envolvidas e preocupadas com o aluno em questão.
    Quanto ao última dúvida, pelo que li, penso que pode ocorrer se de facto a criança for bem acompanhada e fizer o tratamento correcto. Assim prevê-se que depois de 2 anos de tratamento a criança já pode ser considerada "normal", no entanto deve-se manter sob observação ou apoio pelo menos até a época da adolescência, ou seja, o caso não deve ser dado logo como terminado, deve ter um acompanhamento da evolução da criança.

    Beijos
    Vera Rodrigues

    By Anonymous Anónimo, at 19/11/06 23:59  

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